Monday, November 06, 2006

amor, sinônimo de admiração e respeito.

A alguns dias atrás, uma amiga me enviou uma matéria que saiu na revista Cláudia que fala sobre amor, vida, respeito, estima, convivência diária.

Achei muito interessante, e por isso resolvi postar aqui para vocês. Eu nunca acreditei em "amor à primeira vista", sempre achei muito estranho amores e casamento instantâneos. Acredito que passamos a amar uma pessoa, apenas depois da convivência diária. Convivência com suas qualidades e defeitos.

Amar se aprende a cada dia

Primeiro vem a descoberta das afinidades e a explosão da paixão. Depois, alguns casais simplesmente não se aturam mais - enquanto outros constroem um relacionamento vivo e gratificante. A psicoterapeuta LIDIA ARATANGY fala sobre o fator que explica percursos tão diferentes.

De repente, no meio do burburinho da festa de fim de ano, Fernanda sentiu o tuiiimmm. Ela conversava fazia menos de meia hora com o novo colega, mas não podia haver dúvidas: estava diante do homem da sua vida! O entrosamento entre ambos parecia mágico, tinham os mesmos gostos e opiniões - aceitaram e rejeitaram praticamente os mesmos salgadinhos. E Pedro era capaz de se antecipar até à sua sede - pois, quando ela se virou para procurar o garçom, Pedro já lhe estendia a taça de champanhe sem que ela dissesse uma palavra! Aquele relacionamento já nascia pronto e os próximos encontros confirmaram a primeira impressão. Em poucos meses, estavam casados. E felizes. Então, houve o grande desencontro. Pedro chegou em casa depois de um dia de trabalho tenso. E na conversa que tiveram cada um falou no seu idioma:

FERNANDA — Oi, tudo bem?
PEDRO — Tudo bem.
FERNANDA (desconfiada) — Tudo bem mesmo? Você não está com cara de tudo bem...
PEDRO (constrangido) — Não há nada de errado comigo, já disse que está tudo bem!FERNANDA (aflita) — Alguma coisa deve ter havido para você estar assim estranho!
PEDRO (irritado) —Não houve nada! Só estou cansado, quero ficar um pouco sossegado no quarto, não se preocupe.
FERNANDA (solícita) — Quer que eu prepare alguma coisa pra você?
PEDRO (aos berros) — Pára com isso! Não quero nada! Me deixa em paz!

Mas por que se cavara tamanho abismo entre eles? Por que os dois se sentiam desamados e incompreendidos, incapazes de entender a repentina quebra de comunicação entre eles? Não basta o encantamento do primeiro encontro: é preciso aprender a amar.

No início de um relacionamento amoroso, os parceiros procuram e reforçam sinais que confirmam a fantasia de que têm um encaixe perfeito. As afinidades são valorizadas e as mais estranhas alegações são feitas para reafirmar que os apaixonados são uma única alma em dois corpos: "Ele adivinha meus pensamentos, não preciso terminar a frase para que me entenda!" Ou: "Você acredita? Ele também detesta suco de caju!"

Dificilmente um casal se forma sem passar por essa etapa. Mas nenhum casal tem chance de desenvolver e aprofundar o relacionamento se não for capaz de ultrapassar essa fase e de encarar as inevitáveis diferenças. Afinal, nem todos os nossos pensamentos são óbvios e os sabores de sucos são variados demais para que os parceiros sempre concordem em suas preferências e ojerizas. Então, à medida que a intimidade aumenta, a comunicação entre os parceiros se complica - e eles acabam por descobrir que não falam a mesma língua.

A linguagem do afeto não é universal. Nosso modelo de amor deriva dos vínculos afetivos que conhecemos nos primeiros tempos de vida, na linguagem sutil, cheia de meios-tons, que impregna o relacionamento da mãe com seu bebê. A maneira como ela o pega e acaricia, o tom de voz que usa para se comunicar com ele, o olhar que lhe dirige quando o limpa, veste, desveste - tudo isso é captado pelo bebê, que aprende, por meio desses sinais, o que é amar, o que significa ser amado. A partir daí, a criança estabelece internamente um código da linguagem do afeto, montando uma espécie de glossário, no qual o amor é definido como aquilo que os pais sentem por ela - e os sinais que expressam esse sentimento são os que ela percebe no contato com os pais.

Fernanda, por exemplo, estava acostumada a encontrar a mãe à sua espera quando voltava da escola. As pessoas de sua família têm o hábito de falar abertamente sobre o que sentem e acreditam que a intimidade se tece a partir desses momentos de encontro, quando as emoções são expressas, compreendidas e partilhadas. Na casa de seus pais, o afeto se traduz por uma preocupação com os sentimentos, um cuidado em entender o que se passa com o outro e um carinho para mitigar suas aflições. Na família de Pedro, os afetos percorrem caminhos diferentes. Lá, o valor maior está em respeitar a individualidade do outro, em não invadir seus sentimentos, para que as pessoas da família se sintam independentes e livres para expressar emoções quando e como acharem melhor.

Isso não significa que Fernanda seja mais amada do que Pedro nem que a mãe de Pedro seja indiferente às emoções de seu filho. Significa apenas que as duas famílias têm diferentes códigos para a linguagem do amor. Infelizmente, o parceiro não vem com uma bula pendurada no umbigo, em que a gente possa ler o código no qual ele esteve imerso durante a infância. Tudo seria mais fácil se houvesse uma espécie de manual de instruções explicando o significado de cada gesto, as indicações e contra-indicações, os efeitos colaterais etc. Como não existe nada desse tipo, é preciso reconhecer que o vínculo não está pronto como se queria acreditar: a tarefa de decifrar o código de amor do parceiro apenas começa quando o casal se forma.

Continuamos a acreditar que existe um outro que nos completa, sem o qual permanecemos como inválidos, incapazes de dar conta de nossa fragilidade. Ao encontrá- lo, já não precisaríamos fazer mais nada, a não ser descansar à espera da conseqüência natural: "felizes para sempre". Expressões como "a metade da minha laranja", "minha cara-metade", "feitos um para o outro" confirmam o mito e reforçam a idéia de que, uma vez formado o casal, a relação amorosa estaria pronta e acabada. Ledo e perigoso engano.

As pessoas que se prendem a essa fantasia tendem a desistir do relacionamento diante da primeira dificuldade, guiadas pela crença de que, se o encaixe não é perfeito, houve engano na escolha do parceiro. Algumas passam a vida nessa busca, outras optam por relações episódicas, sem intenção de continuidade ou aprofundamento. Os casais que têm mais chance de permanência são os que se dão conta de que a perfeição não faz parte do universo dos humanos - e se dispõem a batalhar para tornar o relacionamento vivo e gratificante, abertos à descoberta de si mesmos e do parceiro.

ATITUDES QUE ATRAPALHAM O AMOR

• Insistir num tema depois que o outro pede para não falar mais no assunto (é claro que você pode - e deve - voltar ao tema em outro momento, mas encompridar uma conversa que irrita o interlocutor não leva a nada além de uma briga).

• Imaginar que sabe tudo que o outro sente ou pensa.

• Interromper um relato do parceiro para corrigir detalhes quando ele está contando algum episódio da vida do casal.

• Fazer surpresas que podem gerar desapontamentos para ambos (uma festa de aniversário, por exemplo, se o outro nunca expressou o desejo de festejar a data).

• Ficar mortalmente desapontada quando alguém lhe faz uma surpresa que você não queria.

• Ficar mortalmente desapontada com o desapontamento do outro quando ele não gosta de uma surpresa.

• Criticar a família dele.

• Cobrar concessões feitas.

• Fingir que gosta do que não gosta.

• Fingir que não gosta do que gosta.

• Envolver familiares (de qualquer dos lados) em assuntos do casal.

• Pontificar sobre o que o parceiro deve ou não fazer (se ele pedir sua opinião, expresse-a como opinião, e não como a palavra final da sabedoria).

ATITUDES QUE ALIMENTAM O AMOR

• Estabelecer com clareza os próprios limites.

• Dizer claramente o que sente - sem esperar que o outro adivinhe seus pensamentos.

• Agradecer as gentilezas e retribuir gestos de carinho.

• Prestar atenção nas pequenas idiossincrasias e respeitá-las sempre que possível (pasta de dentes apertada no meio, cabides pendurados simetricamente, por exemplo).

• Negociar interesses divergentes.

• Indagar o parceiro sobre seus desejos e vontades.

• Demonstrar o que aprecia no comportamento dele.

• Manifestar prazer com a companhia do parceiro.

• Interessar-se pelos projetos e atividades dele.

• Encorajar programas com amigos (de ambos, juntos ou separados).

• Receber com cordialidade os amigos do outro.

• Respeitar a necessidade de momentos de solidão, sua e do outro, ainda que não ocorram simultaneamente.

• Durante as brigas, não agir de maneira a se arrepender no dia seguinte (lembre-se de que a raiva passa, mas a mágoa fica).

• Manter interesses e amigos independentes do outro.

• Respeitar os amigos e interesses do outro, ainda que independentes dos seus.

* Para ouvir e apreciar, ouça a linda e sensual música Lebanese Blonde - Thievery Corporation.

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